O primeiro pensamento que vem à cabeça ao ouvir
esse CD é de respeito à palavra ROCK, estilo musical que nos últimos
anos vem sendo bastante avacalhado, inclusive em terras maranhenses.
Mesmo com certo receio no início, reação recorrente
que sempre tenho ao ouvir alguma produção local - não pela aversão ao que é
feito por aqui, mas por conta de uma ansiedade positiva por um trabalho
consistente -, me sinto bem escutando essa obra.
Outras bandas autorais maranhenses já chegaram a um
amadurecimento inegável, como Fúria
Louca, Souvenir, Página 57, Chaparral, com um tipo de sonoridade mais
acessível, até vertentes mais pesadas, como Tanatron, e a emergente Jack
Devil, que, ao que tudo indica, deve alcançar voos mais altos por conta do
empenho que os integrantes vêm apresentando, em pouco mais de dois anos de
existência.
Porém, o assunto – ou, pelo menos, a linha sonora - a ser tratado nesta abordagem é outro. A banda maranhense Gallo Azhuu investe em um rock com nítidas e irrefutáveis influencias dos anos 60 (a segunda metade) e 70 (na integralidade).
A coisa é apresentada de forma direta, com
guitarra, baixo, bateria, sem teclados ou sopro, coroando o trabalho com um
vocal tão notável quanto inquietante.
A voz de Patrick
é forte, e às vezes gutural, sobre uma base simples, bem executada, sem “vacilos”,
e produção técnica na medida certa, muito embora em vários momentos se
sobressaiam passagens mais cruas. Mas, pelo menos para uma parcela dos
apreciadores do rock setentista, esses trechos são o suprassumo e a garantia da
manutenção da essência do rock n roll,
vide qualquer disco do AC/DC.
Todavia, antes de prosseguir, uma consideração que julgo pertinente e necessária: produzir música calcada nas raízes do rock dos anos 60 e 70 nos dias atuais é uma missão para poucos. Minha impressão sobre isso é baseada na observação da quantidade (pequena) de bandas com tais influências, ainda que possamos identificar exemplos contundentes de algumas que utilizam o estilo, misturado a elementos mais pops e atuais, fórmula que no fim das contas acabou obtendo êxito comercial.
Um exemplo evidente disso foi o estrondoso sucesso
dos Strokes, entre outras bandas
internacionais, durante o fim do século passado e início deste. Aqui, em São Luís, além da Gallo Azuhh há também a Canyon,
grupo que mergulha ainda mais fundo, chegando às regiões abissais do rock progressivo. Resumindo: música para
poucos.
E não posso me furtar, neste momento oportuno, de
citar a existência de bandas maranhenses - há muito finadas - que enveredaram
na sonzeira alucinante dos seventies.
Nos anos 90,
expressões como Ruminando Cogumelos,
Loucura Elétrica, O'Clock, Brain Numb, Bota o Teu Blues Band, entre outras
agitaram os roqueiros da capital maranhense, em shows que reuniam num mesmo
ambiente bandas mais pesadas, punks e até do hip-hop.
Mas, parafraseando o final dos filmes clássicos da
série Conan - O Bárbaro: "essa é uma outra história". A Gallo Azuhh herdou, mesmo que
inconscientemente elementos desse período do rock maranhense. Acho isso uma
maravilha, até pelo fato de atualmente remarem contra a maré.
É o “diferente” - mesmo que reproduzindo clichês de
grandes bandas internacionais e nacionais dos anos 70 -, num mar de
"modernidades", bumba boi, reggae, metal, entre outras linhas de
expressão. Não poderia deixar de falar também do layout da obra. Um
ornitorrinco realmente expressa bem o que esses caras são ou pretendem mostrar
ao publico que estiver atento.
É difícil ficar indiferente ao trabalho da Gallo Azuhh. Afinal, isso já é um
grande passo em meio a um turbilhão - de informações e "informações" -
no qual vivemos.
*Texto publicado originalmente em O Imparcial, em maio de 2013
(Adalberto Júnior)
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