Tivemos mesmo que esperar o raiar do início do Século XXI para apreciar
um representante genuinamente maranhense do rock progressivo, estilo
musical que teve apogeu na década de 1970 do século passado, mas que não
se restringiu a aqueles anos “viajandões”, influenciados pela psicodelia e
concomitantemente pelo minimalismo dos anos 60. Bem, demorou, mas
chegou!
"Antes
tarde do que nunca", podem dizer os entusiastas desse gênero tão rechaçado
(pela grande mídia) quanto revisitado (por bandas influenciadas pela sua
maestria instrumental). É paradoxal, mas uma realidade. Trilhar por esse
caminho - nessa ilha açoitada por estilos musicais duvidosos - é para poucos,
muito poucos.
Porém, a Canyon nos brinda com melodias que parecem ter sido
arrancadas de uma viagem no tempo, a uma época na qual as rádios do ocidente e
de alguns locais do oriente tinham a satisfação de tocar “medalhões”, como Yes,
Genesis, Pink Floyd, Rush, e no Brasil: Os Mutantes, O Terço, e por
que não mencionar Secos & Molhados, dentre várias outras que
estenderiam ainda mais o playlist
setentista.
O fato de
ser, na prática, a única banda de progressivo do estado - ainda não ouvi
falar de outra - se alia a um traço de independência. Os integrantes são os
próprios produtores musicais, ou seja, eles mesmos produzem as gravações, com
captação dos instrumentos, mixagem, pós-produção, tudo isso de forma caseira,
utilizando um computador. Essa característica, para alguns, é a garantia da
manutenção da autenticidade musical do grupo.
Para a Canyon, a independência, a autogestão e a autossuficiência
são os ingredientes principais da banda, formada essencialmente por três
instrumentistas. Soa como uma trupe de músicas mais trabalhadas
instrumentalmente, catalisada pela filosofia "do it your self" (faça
você mesmo) do punk londrino. Lembrando ainda que a arte visual e lay
out, com desenhos em preto e branco também são assinados por um dos
integrantes, ou seja, uma maravilha!
Ramon
Silva (bateria, voz), Jobson Machado (guitarra, teclado e voz) e Leonel Vieira
(baixo, flauta e voz) nos levam às entranhas do estilo, com ótimas passagens,
com guitarras limpas em certos momentos, distorcidas em outros, além, claro de
um baixo e bateria marcantes, coroando momentos cruciais com teclado e os
efeitos sonoros de praxe deste segmento musical.
De uma
maneira bem simples de descrever, os caras vão de influências do hard-prog
do Rush ao som mais espacial do Gênesis (década de 70), passando
pelas melodias mais rebuscadas dos italianos Premiata Forneria Marconi, Museo
Rosenbach e Buon Vecchio Charlie. Cantam em inglês, numa tentativa
de atrair a atenção de um público bem maior, espelhado pelo planeta.
Não é a
toa que eles já vêm sendo citados positivamente em blogs especializados em rock
progressivo, tanto no Brasil quanto em outros países, como a Argentina.
Após o início do grupo, em 2009, gravaram um demo-CDr, intitulado “Elegy for
the King”, com três músicas, duas das quais regravadas neste mais recente
trabalho, de 2014, um EP, com quatro faixas, remasterizado pelo produtor Antônio
Celso Barbieri, no Raw Vibe Studio, em Londres (Reino Unido).
A Canyon já caiu no gosto de uma parcela de roqueiros da
capital maranhense, indo na contramão do que vem sendo produzido por aqui - com
competência e qualidade, diga-se de passagem -, com bandas investindo em
sonoridades mais atuais, ou de outras vertentes mais pesadas, o que, a meu ver,
só enriquece nossa cena rock, independente de estilos.
O
Maranhão tem aparecido mais e a Canyon é uma ótima
surpresa, mesmo que pelo ineditismo tardio, exaltando os traços do progressivo,
ou seja, do bom e velho rock n roll. Até para fãs de outras vertentes
sonoras ou mesmo do rock, vale a pena entrar ouvir o grupo.
O nome
remete imediatamente a aquela paisagem grandiosa, acachapante e não menos
desafiadora do território dos Estados Unidos. Assim é a Canyon.
Na internet é fácil de encontrar o áudio. É só acessar e adentrar os meandros!
Boa audição!
Ouça o EP "Canyon", da banda maranhense de rock progressivo Canyon:
Ouça o EP "Canyon", da banda maranhense de rock progressivo Canyon:
Nenhum comentário:
Postar um comentário