Em 1990, mais de 30 anos antes de o fenômeno Rayssa Leal, a Fadinha, despontar internacionalmente no cenário do skate mundial, o Maranhão apareciaria pela primeira vez na mídia nacional, através de uma reportagem especial da revista Skatin.
A aparição nacional - que não ocorreu por conta do desastre econômico do Plano Collor, que capturou a poupança dos brasileiros - se integrava aos esforços locais de alguns poucos empresários, políticos, centenas de skatistas e entusiastas do esporte - ainda discriminado à época - que, na verdade, anos mais tarde elevaria a imagem do Brasil em competições internacionais, inclusive, em Olimpíadas, o que pouquíssimos previam, até mesmo os mais apaixonados pelo skate.
Quem diria, hein!
A matéria exaltava as potencialidades maranhenses no nível regional, acompanhando um movimento nacional e internacional, com o advento do esporte nos anos 1980. Trata-se da segunda geração de skatistas maranhenses, com destaque para Rodrigo Maluf (que postou no Instagram o material produzido pelo fotógrafo Luiz Calado, que permanecia inédito), Paulo Renato, Mauro Burguês, Haroldo Café, Cara de Cavalo, Clênio, entre outros - alguns deles patrocinados por marcas nacionais, como LifeStyle, Urgh, o que era um fato inédito no esporte local, pelo menos na modalidade skate.
SKATIN
A Revista Skatin surgiu em 1988, pela Editora Azul, sendo uma das duas publicações mais influentes do período sobre skate (a outra era a Overall). Publicação bimestral, apresentava temas como street, freestyle, vertical, entrevistas, música, entretenimento e as news do skate, sempre com bons textos, ótimas fotos e cobertura dos picos das cidades.
O fotógrafo Luiz Calado era colaborador e foi o criador do logotipo da SKATIN, revista que teve 14 edições impressas - a 15a (última) ficou apenas no digital, uma vez que a economia do país sofreu confisco, através do Plano Brasil Novo (popularmente conhecido como Plano Collor) que impossibilitou a impressão e consequentemente as vendas nas bancas.
Bom! Confira um pouco dessa parte da história do esporte maranhense!
Boa leitura!
No Nordeste brasileiro tem skate. Todo mundo já sabe. Mas bem pouca gente tem ideia do nível do esporte nessa região. Quem tem a oportunidade de conferir ao vivo o cenário skatístico das capitais e principais cidades certamente volta com uma ótima impressão. E para surpreender nossos leitores esta primeira de uma série de reportagens sobre o skate no Nordeste, onde revelamos o esporte em São Luís do Maranhão.
Estilo e manobras de efeito executadas com sucesso foram as artimanhas que o paraibano Paulo Magno usou para faturar a competição do street amador. Na outra página uma panorâmica do alucinante Skate Park do Castelão situado em um imenso complexo esportivo, que inclui quadras, ginásio coberto, posta de kart e estádio de futebol. (texto e foto: Luiz Calado)
São Luís é, na verdade, o nome de uma ilha onde se situa a capital maranhense mais precisamente no litoral ocidental, onde desembocam os rios Mearim-Pindaré, Itapecuru e Munim. A cidade foi fundada por franceses em 1612, tornando-se logo campo de batalha nas disputas territoriais entre os colonizadores europeus (portugueses, franceses e holandeses). Retomada definitivamente em 1644 e integrada ao comércio português.
São Luís se destacou inicialmente como centro exportador. Atualmente, a capital maranhense conta com uma população de 600 mil habitantes, distribuída numa área de 518 km², cujas atividades econômicas básicas são o comércio, a prestação de serviços e a pesca. Pra curtir, praias, gatas e muito skate.
Final do mês de julho. Enquanto a temperatura praticava queda livre nos termômetros das regiões Sul e Sudeste (chegando a ficar abaixo de zero em algumas madrugadas), cheguei em São Luís e logo de cara tomei uma baforada de noda menos que 33 graus! Refeito de impacto, constatei rapidamente que essa era a temperatura média da cidade, amenizada apenas por uma brisa que sopro em... Arquitetura colonial, mulheres bonitas e comida típica: tempero bem brasileiro.
Além de mim lá já estavam os profissionais Deto or Die! e Wilson Ito, enquanto o amador Ricardo Mikuim chegaria no dia seguinte. O motivo da nossa presença em São Luís era um só: a realização do Circuito Maranhense de Skate, segunda etapa válida para o Ranking Norte-Nordeste.
Dividido nas modalidades vertical, street e mini-ramp, esse campeonato amador marcou o inicio das atividades competitivas no Skatepark do Castelão (ao lado do estádio de futebol de mesmo nome). A pista é realmente alucinante. Numa área de cerca de 500 m² estão distribuídos um half-pipe (que precisa de uma reforma no coping saltado só pra cima), uma mini-ramp (um pouco estreita por causa das duas extensões simetricamente opostas) e uma área para street (de excelente qualidade, com dois quarter pipes, rampa de salto, rampa delta, vulcão, funbox, wallride e trilho).
Além disso, a área é toda cercada e conta com banheiros e duas salas onde funcionam a Associação Maranhense de Skate (AMS). Se considerássemos apenas a pista observaríamos que essa associação já conquistou uma posição de destaque no cenário nordestino. Mas com a realização do campeonato, a A M.S. através dos esforços de Altamiro "Fabiano" Passos (presidente) e Edivaldo "Lobinho" Reis (vice) ela se consolidou como uma grande força para o skate no região conseguindo reunir os melhores representantes de cada estado nas diferentes modalidades.
O evento ocupou todo o final de semana, começando no sábado com as provas de vertical. Nessa modalidade, domínio total dos skatistas de Natal (RN) Jessé "Monstro" em primeiro, Ilzeli (que também é representante comercial e presidente da Associação de Skate de Natal) em segundo, e Franklin em terceiro.
O domingo começou com as provas de mini-ramp com tiques-triques dos mais modernos a briga foi de alto nível. Com alguns décimos a mais na nota final. Quem se deu bem foi Paulo Renato "Kaçuloso", ficando Rodrigo Maluf "Besteirinha" em segundo (ambos de São Luis) e César (de Goiânia) em terceiro.
A modalidade streetstyle foi subdividida nas categorias Mirim, Iniciante e Amador, apresentando um bom número de inscritos. Entre os maranhenses do Mirim, o melhor de todos foi Sebastião "Pirralho", mostrando muita precisão e intimidade com o carrinho, faturando o primeiro lugar. Os Iniciantes que se revelaram muito bem iniciados já eram locais da pista e não amarelaram. Na final, Wagner "Bomba" terminou em primeiro, seguido de Wagner "Roi-Coco" e Orismar "Encrenca" (todos do Maranhão).
Apesar da falta de eventos, o freestyler Márcio Sibalde apresenta performances de ótimo nível e espera encontrar um patrocinador do mesmo tipo |
... os amadores mostrando um nível comparável ao dos atletas sulistas. Apesar de não ser local, o paraibano Paulo Magno "Flanbotz" mostrou estilo e abusou de todos os obstáculos, aplicando manobras de efeito e conquistando o primeiro prêmio. Franklin ficou em segundo e Rodrigo "Besteirinha" em terceiro.
A participação do público foi grande, que vibrou não só com os competidores mas também com os demonstrações dos convidados. Deto or Die e Ito fizeram os espectadores levantarem com doubles kamikazes na parede. Mikuim apresentou uma rotina divertida e segura, usando toda a pista ininterruptamente, enquanto o streeteiro profissional de Recife (PE) Marcelo Agra, o "Bobeirinho" mostrou variações de ollies e manobras de solo.
O sol forte capaz de rachar a cuca (principalmente dos paulistas), foi amenizado com uma infindável quantidade de cervejas oferecidas por um dos patrocinadores do evento: a Brahma Chopp. Assim, não tive muito trabalho no locução do evento, já que as assessoras Juliana e Vanessa não me deixavam o copo vazio.
Pode-se dizer uma coisa do povo de São Luís eles têm estilo. Pra ter uma ideia mais exata, repare na lista que segue de frutas (bacuri, cupuaçu, juçara, buriti, pitomba), comidas: (carne de sol, surubim, caruru, buxada, sarrabulho, paçoca). Refrigerantes: Jesus e Jeneve, só pra ficar na área dos alimentícios.
É mole?
Para quem é turista-skatista, embora o Skatepark do Castelão seja a atração principal, vale a pena um passeio pelas praias de São Marcos, Calhau, Caolho, Olho d'Água e Araçagi (algumas delas têm dunas onde você pode dropar usando somente o shape. Alucinante!).
Pelo Centro Histórico (tombado e todo reformado) ou até pelo shopping center (muito agito e altos brotos!)
Quem nos recebeu foi o sr. Abdala Maluf, o personagem mais importante na concretização das demos e da assessoria à imprensa. Proprietário da Skate Mania Skateshop, patrocinadora do evento - este engenheiro civil de 41 anos, incentivado por seu filho, Rodrigo, montou a loja há mais de um ano, revendendo os produtos das principais marcas nacionais e dando um importante incentivo ao esporte na cidade. Figura simpático, bem-relacionado (conhecia muitas gatinhas!) e craque em fliperama "seu Abdala" foi o melhor dos anfitriões que poderíamos ter. Hospedados em sua casa (com direito a café da manhã, almoço, lanche e jantar servidos! roupa lavado, videocassete e skate vídeos), eu, Beto, Ito e Mikuim simplesmente não queríamos mais ir embora. Quem conhece sabe que a hospitalidade nordestina è absolutamente fantástica. Além de seu Abdala, sua esposa Lúcia, os filhos Rodrigo e Erika e dona Laura (avó) se tornaram a nossa família durante os dez dias que passamos em São Luís. Aliás, diga-se de passagem, se ficássemos mais tempo, dona Lúcia e dona Laura - cozinheiras de mão cheia teriam nos segurado literalmente pelo estômago.
Como em todas as capitais brasileiras não faltam contrastes -enquanto centenas de palafitas povoam uma lagoa poluída, mansões se erguem no lado urbano. Ao lado: Bebida típica em São Luís, o refrigerante Jesus tem um gosto duvidoso-sabor tutti-frutti aguado e doce (!) |
Com todo esse tempero, São Luís transformou-se em parada obrigatória no roteiro dos skaters mais espertos, mas ainda não podemos chamar essa cidade de "paraíso," embora o skate tenha se desenvolvido bastante, falta um pouco mais de apoio das empresas, principalmente os do skate, de mais campeonatos e de um intercâmbio mais eficiente entre os atletas de lá e do resto do país.
Skatistas como Márcio Sibalde, um freestyler maranhense de ótimo nível, ainda se ressentem da falta de eventos e de mais apoio, principalmente na sua modalidade. Ele é um dos melhores exemplos para que as empresas do meio, a maioria concentrada na região Sudeste, abram os olhos e descubram o valor de skatistas que, apesar de nome e apelidos engraçados como Magno "Cara-de-Cavalo", Harold "Café", Mauro "Burguês", Leandro "Fofolete", Marcone "Esquimó", João César "Estiloso", Carlos "Cacalo", "Xibiu", "Kambão", "Animal", "Chocolate" e "Bomba", eles são, na verdade legítimos representantes da nova geração do skate nacional.
Embora algumas empresas, como Narina, Flywalk, Alva, Lifestyle e Urgh! - já apoiem alguns skatistas nordestinos ainda resta muito potencial o ser explorado. A estrutura local já pode abrigar campeonatos de nível profissional e o interesse em eventos desse gênero é grande. A "SKATIN", como o principal veiculo de comunicação especializado no esporte, cumpre sua parte e espera que todos sigam o exemplo.
Agradecimentos especiais a toda família Maluf, a Agência de Turismo Baluz, a Brahma Chopp, todos os skatistas (e às gatinhas também. é nova!) que contribuíram para a realização do evento e desta reportagem.
Valeu! Até a próxima!
No alto: Nas dunas da praia de São Marcos, a brincadeira é descolar um shape e dropar na arela; Mikuim mostra as bases de caiçara e arrisca um layback | Acima: Aterrorizando o público com indy airs no half imperfeito, Jessé "Monstro" levou pra Natal o titulo do vertical | Ao lado: A imensa parede de wallride ficou pequena diante dos alucinados doubles de Beto or Die! Wilson Ito |
CIRCUITO MARANHENSE
DE SKATE
Data: 28 e 29 de Julho de 1990
Local: Skatepark do Castelão - São Luis (MA)
Realização: Associação Maranhense de Skate
Modalidades: Vertical, Street e Miniramp
Categorias: Amador, iniciante e Mirim
Patrocinio: Skate Mania Skateshop, Brahma Chopp
Apoio: Revista SKATIN, Prestige, Tracker, Alva, Cush, Flywalk, Bones, Rude Boy, Sims, Hang Loose, Camic, Urgh, Mustab, Moska, Narina, Mera Crazy Urgh, Lifestyle, H 521 SKT News
Monster Agencia Baluz, Vidratma, Tecmil Miro Sport, Visual Lew Constral Cerómica Sop tuis Painel, Olincol, Enciza, Armazem Unido Fenix
Classificação final:
Vertical Amador
1- Jessé "Monstro" (RN)
2 - Ilzeli Nascimento (RN)
3 - Franklin (RN)
4 - Harold Café (MA)
5 - Rosivaldo (MA)
6 - Clênio (MA)
Mini-Ramp Amador
1 - Paulo Renato MA
2 - Rodrigo Maluf MA
3 - César (GO)
4 - Clênio (MA)
5 - Ilzeli Nascimento (RN)
6 - Mosquito (MA)
Streetstyle Amador
1 - Paulo Magno (PB)
2 - Franklin (RN)
3 - Rodrigo Maluf (MA)
4 - Magno "Cara de Cavalo" (MA)
5 - Paulo Renato "Koçuloso" (MA)
6 - Marcone "Esquimó" (MA)
Streetstyle Iniciante
1 - Wagner "Bomba" (MA)
2 - Wagner "Roi Coco" (MA)
3 - Orismar "Encrenca" (MA)
4 - João César "Estiloso" (MA)
5 - Wagner Jagunço (MA)
6 - Mauro Burguês" (MA)
Streeststyle Mirim
1 - Sebastião Piralho (MA)
2 - João Kambão (MA)
3 - Leandro "Fofolete" (MA)
4 - Júnior (MA)
5 - Ferrugem (MA)
6 - Pelezinho (MA)
Aterrorizando o público com indy airs no half imperfeito, Jessé "Monstro" levou pra Natal o titulo do vertical |
Pivot to fakie no quarter-pipe era uma das especialidades de Rodrigo Maluf, o "Besteirinha", líder do ranking maranhense de Street. |
Flagrante de um almoço em família: (da esquerda para a direita, sentados) Ilzeli, Ito, Paulo Magno, Beto, "seu" Abdala, Rodrigo e Mikuim; (em pé, ao fundo) Erika, dona Laura e dona Lúcia |
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